Potencial terapêutico e composição química do óleo de bicho do tucumã (Astrocaryum vulgare Mart.) utilizado na medicina popular

Autores

  • Tainá Teixeira Rocha Universidade do Estado do Pará - Uepa http://orcid.org/0000-0001-6842-2945
  • Ana Claudia Caldeira Tavares-Martins Universidade do Estado do Pará - UEPA
  • Flávia Cristina Araujo Lucas Universidade do Estado do Pará - UEPA
  • Roberto Carlos Campos Martins Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Palavras-chave:

Óleo de bicho do tucumã, Ilha do Marajó, Medicina tradicional

Resumo

No Brasil grande parte da população consomem produtos de origem natural, como uma fonte alternativa de medicação. A adaptação dos vários grupos humanos diante das riquezas biológicas do país gerou um inestimável sistema de conhecimento local que inclui extensa fonte de informações sobre as propriedades medicinais de plantas e animais, o qual vem se perpetuando através da medicina tradicional brasileira. O objetivo desta pesquisa foi analisar a composição química do óleo de bicho do tucumã, visando correlacionar os resultados obtidos com as indicações terapêuticas dos moradores da Reserva Extrativista Marinha de Soure, Ilha do Marajó, Pará, Brasil. A amostragem foi não probabilística e por seleção racional. As amostras de óleo-de-bicho foram submetidas à análise por Cromatografia Gasosa acoplada a Espectrometria de Massas com a finalidade de determinar a sua composição química. O óleo de bicho é empregado no tratamento de 13 doenças e pode ser manipulado puro (86%) ou associado (14%) com outras espécies de vegetais. O perfil cromatográfico das amostras revelou-se muito similar, tanto qualitativa, quanto quantitativamente revelando ácidos graxos saturados e insaturados como componentes majoritários da mistura. Foi possível observar que o óleo de bicho do tucumã possui propriedades anti-inflamatórias, além da grande importância cultural que este apresenta dentro da RESEX Marinha de Soure.

Therapeutic potential and chemical composition of the “óleo de bicho do tucumã” used in folk medicine

 

Interactions human - nature generated rich cultural production of knowledge about the uses of animals and plants as traditional medicines. In Brazil, most of population use natural products as an alternative medicine source. The adaptation of various human groups to the biological resources of the country has generated a system of inestimable local knowledge that includes extensive information supply about vegetal and animal medicinal properties, which continues to exist through traditional Brazilian medicine. “Óleo de bicho” is well known and used by the residents of Marine Extractive Reserve of Soure, mainly for medical treatment. The objective of this study was to correlate the therapeutic indications of the residents of the reservation to the chemical composition of animal oil tucumã. The sampling was probabilistic and rational selection. The samples of “óleo de bicho” of the tucumã were submitted to analysis by gas chromatography coupled to mass spectrometry in order to determine their chemical composition. Regarding the oil, it is used in the treatment of 13 diseases and can be manipulated pure (86%) or combined (14%) with other plant species. The chromatographic profile of the samples presented very similar, both qualitatively, and quantitatively revealing saturated and unsaturated fatty acids as major components. It was observed that the oil Critter tucumã has anti-inflammatory properties in addition to the great cultural importance to their users.

Keywords: Analysis by Chromatography; Marajo Island; Traditional Medicine.

Referências

1. Foglio, M. A.; Queiroga, C. L.; Sousa, I. M. de. O.; Rodrigues, R. A. F. Plantas Medicinais como Fonte de Recursos Terapêuticos: Um Modelo Multidisciplinar. Multiciencia: construindo a história dos produtos naturais, n. 7, 2006.
2. Pinto, A. A. C.; Maduro, C. B. Produtos e subprodutos da medicina popular comercializados na cidade de Boa Vista, Roraima. Acta Amazônica, v. 33, n. 2, p. 281-290, 2003.
3. Niehue, S. J.; Bonetti, P.; Souza, M. R. de, Maia, A. L.; Piovezan, A. P.; Peters, R. R. Levantamento etnofarmacológico e identificação botânica de plantas medicinais em comunidades assistidas por um serviço de saúde. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 40, n. 1, p. 34-39, 2011.
4. Alves, R. R. N.; Silva, C. C. S.; Alves, H. N. Aspectos sócio-econômicos do comércio de plantas e animais medicinais em área metropolitanas do Norte e Nordeste do Brasil. Revista de biologia e ciências da terra, v. 8, n. 1, p. 207-215, 2008.
5. Alves, R. R. N.; Dias, T. L. P. Usos de invertebrados na medicina popular no Brasil e suas implicações para conservação. Tropical Conservation Science, v.3, n. 2, p. 159-174, 2010.
6. Costa Neto, E. M. A zooterapia popular no Estado da Bahia: registro de novas espécies animais utilizadas como recursos medicinais. Ciência & Saúde Coletiva, v.16, p. 1639-1650, 2011.
7. Andrade, J. N.; Costa Neto, E. M. Primeiro registro da utilização medicinal de recursos pesqueiros na cidade de São Félix, Estado da Bahia, Brasil. Acta Scientiarum. Biological Sciences, v. 27, n. 2, p. 177-183, 2005.
8. Pereira, J. P. R.; Schiavetti, A. Conhecimentos e usos da fauna cinegética pelos caçadores indígenas “Tupinambá de Olivença” (Bahia). Biota Neotropica, v. 10, n. 1, p. 175-183, 2010.
9. Barbosa, J. A.; Alves, R. R. N. “Um chá de que?” – animais utilizados no preparo tradicional de bebidas medicinais no agreste paraibano. Revista de Biologia e Farmácia, v. 04, n. 02, p. 1-12, 2010.
10. Silva, A.L. Animais medicinais: conhecimento e uso entre as populações ribeirinhas do rio Negro, Amazonas, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 3, n. 3, p. 343-357, 2008.
11. Costa Neto, E.M.; Resende, J.J. A percepção de animais como “insetos” e sua utilização como recursos medicinais na cidade de Feira de Santana, Estado da Bahia, Brasil. Acta Scientiarum. Biological Sciences, v. 26, n. 2, p. 143-149, 2004.
12. Silva, L. C.; Lemos, W. P.; Castilho, A. P.; Araújo, M. R.; Lemos, E. C. M. Caryoborus serripes e Speciomerus ruficornis (Col., Bruchidae) associados a tucumã Astrocaryum vulgare no Estado do Pará. XXIV Congresso Brasileiro de Entomologia. 2012.
13. Menezes, A. J. E. A.; Homma, A. K. O.; Oliveira, M. E. C.; Matos, G. B. Exploração do óleo de tucumã do Pará (Astrocaryum vulgare mart.) na mesorregião da Ilha do Marajó - município de Soure- Pará. II Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos. 2012.
14. Lima, R. R.; Trassato, L. C.; Coelho, V. O tucumã (Astrocaryum vulgare Mart.) principais características e potencialidade agroindustrial. Belém, EMBRAPA-CPATU. Boletim de Pesquisa, 75. 1986. 27.p.
15. Shanley, P.; Medina, G. Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica. Belém: CIFOR, Imazon, 2005, 300 p.
16. Monteiro, M. V. B.; Bevilaqua, C. M. L.; Correia Palha, M. D.; Braga, R. R.; Schwanke, K.; Rodrigues, S. T.; Lameira, O. A. Ethnoveterinary knowledge of the inhabitants of Marajó Island, Eastern Amazonia, Brazil. Acta Amazônica, v. 4, n. 2, p. 233-242, 2011.
17. Albuquerque, U. P.; Lucena, R. F. P.; Cunha, L. V. F. C. Métodos e Técnicas na Pesquisa Etnobiológica e Etnoecológica. (Coleção Estudos e Avanços). 1. ed. NUPEEA, Recife, 2010. 558 p.
18. Camejo Rodrigues, J. S. Estudo etnobotânico das plantas aromáticas e medicinais. In: Figueiredo, A. C.; Barroso, J. G.; Pedro, L. G. (Eds). Potencialidades e Aplicações das Plantas Aromáticas e Medicinais. Curso Teórico-Prático, p. 168-174, 3ª Ed., Edição da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa - Centro de Biotecnologia Vegetal, Lisboa, Portugal. 2007.
19. Pesqcid. Pesquisa na CID-10. Datasus. Versão 2.4. 2003.<http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/cid10.htm>. Acessado em: Out. 2013
20. Murrietta, C. M., Hess, B. W., Rule, D. C. D. Comparison of acidic and alkaline catalysts for preparation of fatty acid methyl esters from ovine muscle with emphasis on conjugated linolenic acid. Meat Science n. 65, p. 523-529, 2003.
21. Addams, R. P. Identification of the essential oil components by Gas Chromatography/Mass Spectrometry. 4th ed. Carol Stream, IL, USA: AlluredBooks. 2010. 804 p.
22. Santos, C. A.; Passos, A. M. P. R.; Andrade, F. C.; Camargo, E. A.; Estevam, C. S.; Santos, M. R. V.; Thomazzi, S. M. Antinociceptive and anti-inflammatory effects of Caesalpinia pyramidalis in rodents. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 21, n. 6, p. 1077-1083, 2011.
23. Coelho-Ferreira, M. Medicinal knowledge and plant utilization in Amazonian coastal community of Marudá, Pará State (Brasil). Journal of Ethnopharmacology, v. 126, p. 159-175, 2009.
24. Pimentel, A. G. M. P. Cultivo de plantas medicinais na Amazônia. Belém: FCAP- Serviço de documentação e informação, 1994. 114p.
25. Rios, M. N. S.; Pastore, Jr. F. organizadores. Plantas da Amazônia: 450 espécies de uso geral. Brasília : Universidade de Brasília, Biblioteca Central, 2011. 3140 p. Livro digital, disponível em: <http://leunb.bce.unb.br/> . Acessado em: Out. 2013.
26. Ferreira, E. de S.; Lucien, V. G.; Amaral, A. S.; Silveira, C. da S. Caracterização físico-química do fruto e do óleo extraído de tucumã (Astrocaryum vulgare Mart). Alimentos e Nutrição, v.19, n.4, p. 427-433, 2008.
27. Vianni R. ; Braz-Filho, R. Ácidos graxos naturais: importância e ocorrência em alimentos. Química Nova, v. 19, n. 4, p. 400-407, 1996
28. Brandão, P. A.; Costa, F. G. P.; Barroso, L. R.; Nascimento, G. A. J. N. Ácidos graxos e colesterol na alimentação humana. Agropecuária Técnica, v.26, n.1, p. 5-14 , 2005.
29. Lottenberg, A. M. P. Importância da gordura alimentar na prevenção e no controle de distúrbios metabólicos e da doença cardiovascular. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, v. 53, n. 5, p. 595-607, 2009.
30. Moyana, P.; Heinzen, H. Lipídos: química y productos naturales que lós contienen. Cap. 17. In: Simões MO 2010. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 6 ed. 1 reimp. – Porto Alegre. Editora da UFRGS. Florianopólis: Editora da UFSC. 2010. 1104 p.
31. Ferreira, F. S.; Brito, S. V.; Saraiva, R. A.; Araruna, M. K. A.; Menezes, I. R. A.; Costa, J. G. M.; Coutinho, H. D. M.; Almeida, W. O.; Alves, R. R. N. Topical anti- inflammatory activity of body fat from the lizard Tupinambis merianae. Journal of Ethnopharmacology, v. 130, n. 3, p. 514–520, 2010.

Downloads

Publicado

2014-11-06

Como Citar

Rocha, T. T., Tavares-Martins, A. C. C., Lucas, F. C. A., & Martins, R. C. C. (2014). Potencial terapêutico e composição química do óleo de bicho do tucumã (Astrocaryum vulgare Mart.) utilizado na medicina popular. Scientia Plena, 10(11). Recuperado de https://scientiaplena.org.br/sp/article/view/2087

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)